quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Histórias do Norte - A Mente de Horst Fergunson

  Existem muitas razões pelas quais eu não posso matá-la, uma delas é que meu coração se torna dela a cada dia mais desde que ela foi levada ao nosso barco. Nos primeiros dias de viagem eu a observava de longe, ela sempre se encontrava olhando o horizonte e por vezes chorava copiosamente, mas nunca abaixou sua cabeça para nenhum de nós. Os homens faziam piadas e ameaças e ela sempre os fitava com desprezo e desdém, mas ao mesmo tempo nunca gritou ou se mostrou agressiva, era forte e astuta, sabia que estava em desvantagem, principalmente que estava separada de todos os outros que seriam vendidos como escravo. Nada a aconteceria, pois ela fora dada a mim, e devido a minha posição eles só poderiam fazer cena.
  Apenas uma noite, quando dormia longe das vistas é que foi atacada por um dos homens, eu estava andando pelo navio e corri quando ouvi o barulho, ao chegar vi que ele estava caído de joelhos e ela continuava impassível, “uma bruxa”, o homem gritava delirante e ela me fitou como se eu não estivesse ali, com olhos gélidos e mortais e desde então eu sonho com esses olhos.
  Tentei e tento me aproximar desde então, mas ela sempre me repele e escapa pelos dedos.

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