quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Histórias do Norte - Parte 9

  Acordei de súbito completamente suada e com o coração batendo forte contra o peito, pesadelos às vezes são só sonhos ruins, em outras demônios que nos atormentam à noite ou sinais de um futuro não tão distante. Levantei da cama e percebi que as temperaturas já estavam muito baixas e que mesmo com a fogueira acesa, minhas juntas doíam muito, respirei pesadamente o ar daquela quase manhã e sentei mais próximo ao fogo em estado contemplativo tentando me lembrar detalhes daquele pesadelo, mas só conseguia lembrar de estar em uma chuva de sangue.
  Horst Fergunson, como se chamava meu futuro marido e também meu captor e vigia, acordou e se virou para mim. Desde que chegamos ele me cedeu o colchão de feno seco que era mais confortável e passou a dormir em um amontoado de peles ao lado. Ele esticou sua mão e segurou a minha, que foi retirada bruscamente, e colocada junto eu meu corpo encolhido.
-Não consegue dormir? - me perguntou.
-Estou com muito frio…
-E…? - ele se adiantou como se lesse meus pensamentos. Levantou e colocou uma das peles em minhas costas.
-Tive um pesadelo.
-Deveria se consultar com um goði, eles sabem de tudo, podem te ajudar a descobrir o que tem nos seus sonhos, talvez você consiga até algum preparado que ajude a dormir. - eu ri baixo ao ouvir isso.
-Só tem uma questão nessa sua lógica, eu também sou uma sacerdotisa, e eu consigo resolver isso sem ajuda, na verdade, não tem exatamente o que resolver, os sonhos, eles nos avisam as coisas, o problema é que o futuro não pode ser evitado e nem mudado, mesmo que a gente utilize essas visões e tente muito, ele cobra um preço muito alto.
-E então pra que serve isso?
-A gente só senta e espera tudo acontecer.
  Horst então sentou-se ao meu lado, jogou uma pele sobre as costas e ficamos sentados em silêncio olhando para o fogo, até que batidas fortes na porta soaram como trovões e então eu sabia que o sangue se aproximava.

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